Pingue-pongue
- eloafbrandao
- 21 de jan. de 2021
- 2 min de leitura
A gente aqui em casa deu pra jogar pingue-pongue nessa quarentena. Eu vou umas duas vezes por semana, talvez três, e fico uns minutinhos lá; é legal. Mas meus pais, viciaram. Sem nada pra fazer, eles descem para o salão de festas do prédio duas vezes por dia, senão três, e ficam lá por horas a fio. Posso estar exagerando, eu admito, mas se estou é bem pouco!
Quando voltam, contam para mim sobre suas partidas como quem conta sobre a luta mais acirrada de MMA que o mundo já viu! Através de uma conversa comigo, ficam jogando indiretas um para o outro. "Filha, você tem que ver. Ele é tão descarado em me deixar ganhar!", diz minha mãe. "Oi? O jogo ficou de dez à nove eu quase morri pra fazer aquele último ponto! Filha, se você visse...", rebate meu pai. Tudo com muito bom humor.
Bom humor aqui, porque lá em baixo, no calor do momento, o cenário é de guerra e as boladas são violentas. Se são bons? Sim. Se me assustam? Muito.
Quando minha mãe ganha do meu pai, ela solta uma risada maquiavélica que o estressa ao extremo. Quando meu pai resolve ganhar dela, até esfrega as mãozinhas enquanto murmura sobre vingança, que nem vilão clichê de desenho animado.
Quando meu pai está perdendo, seus olhos saltam das órbitas, sua veia no pescoço começa a latejar e seu rosto fica tão vermelho quanto a própria raquete! Juro, ele grita e o prédio inteiro escuta! Fica assim, à beira de um ataque cardíaco; e quando perde de verdade, quase chora. Já minha mãe quando perde, fica o acusando de mil e uma barbaridades e depois vem se queixar comigo - vê se pode!
Em nome da competitividade, já rolou até uns machucados acidentais bem feios lá em baixo: a coxa bate com força na quina da mesa quando a bolinha vai cair perto da rede, ou alguém derrapa tentando pegar a maldita raquete que acabou voando da mão, ou o oponente fez uma marquinha vermelha perfeitamente redonda no pescoço do outro com a bolinha.
Apesar disso, é uma raiva meio que de mentirinha. No fundo, eles estão se divertindo horrores, e ambos sabem disso. Senão não voltariam lá, eles não são loucos!
Tá bom, só um pouquinho. E os vizinhos estão de prova! Porque misturados com os gritos, as gemuras e os barulhinhos levemente irritantes da bolinha batendo lá e cá, há também muitas gargalhadas! Se são maquiavélicas ou não, é irrelevante. Ainda são gargalhadas!
Eloá Faria Brandão
09.08.2020






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