O ano era 2020...
- eloafbrandao
- 20 de jan. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de jan. de 2021
O ano era 2020. Uma pandemia havia se alastrado pelo mundo, e eu e minha família ficamos aqui em casa, quietinhos no ninho, só esperando passar. Encolhidos dentro de nosso minúsculo apartamento por meses e meses, sempre respeitando a risca a quarentena – não saindo nem para dar uma espiada lá fora, quem dirá fazer compras no supermercado!
Morrendo de medo – como muitos mais deveriam estar – e assistindo obsessivamente ao jornal em um estado constante de "cobertos por álcool gel", ao menos no início.
Início este, muito difícil. Eu pensava: "essa casa era tão pequena assim mesmo?". E não, definitivamente não era. Já minha mãe? Ah, coitada… ela raspou a cabeça. Isso mesmo que você leu! Como costumava ameaçar sempre que não conseguia dar um jeito no cabelo, ela surtou: pegou a máquina, o pente 20 mm, e se surucou. Se arrependeu quase na hora, lógico.
Papai estava bem tranquilo, descontando tudo no pingue-pongue. Só que todos pensávamos que a coisa toda duraria umas duas semanas, no máximo três. Estávamos psicologicamente preparados pra isso desde o início! Mas os meses foram passando. Ora ficávamos entediados, ora desprovidos de qualquer emoção remotamente humana.
Ok, estou exagerando… um pouco. A questão é: tivemos que nos adaptar.
Não é surpreendente como um trio de gente que se dizia tão caseiro achou a experiência de enlouquecer? Ok, estou exagerando de novo... Só eu achei. E quer saber? Iniciei essa crônica de forma errada.
Então, mais uma vez: o ano era 2020. Lá fora, uma tragédia humanitária mundial; aqui dentro, eu, meu pai e minha mãe estávamos tentando não afundar nisso. E conseguimos! Não é surpreendente como até em um cenário tão ruim os seres humanos conseguem encontrar, e criar, suas próprias válvulas de escape?
Eu e minha mãe estávamos conversando ontem e percebemos que ao longo desse período, coisas boas e ruins estavam presentes. Dentre as ruins, a pior era saudade. Saudade da nossa família, dos nossos amigos, da nossa liberdade. Cá entre nós, fiquei com saudade até do que antes eu achava um porre.
Agora, entre as coisas boas… pra começar, nos aproximamos muito. Jogávamos pingue-pongue na mesa nova, conversávamos e víamos inúmeros filmes juntos. E olha só: não enjoei dos dois! O ápice: minha mãe assistiu "Anne with an E" comigo!
Durante a quarentena, aprendi que adoro conversar com minha mãe. Que tenho uma quedinha pela escrita. Que gosto de usar meu cabelo cacheado e curto, meia-calça de abelhinha e esmalte azul. Que torta de morango definitivamente é minha sobremesa favorita. Que fico bem de maria-chiquinha. Que gosto de astronomia.
Aprendi que o Taekwondo, não sei como nem quando, deixou de ser só um esporte pra que eu não ficasse sedentária – agora ele faz parte de mim. Que não preciso ver uma pessoa todo dia pra que ela continue sendo minha amiga. Que às vezes, um tempo sozinha é legal. Que o catálogo da Netflix tá cada vez pior. Que sei me adaptar.
E se quer saber como tudo isto terminou para gente… bom, mamãe assumiu o cabelo curto!
31.07.2020
Eloá Faria Brandão






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